sábado, 12 de dezembro de 2015

TCC

                                 UNIVERSIDADE CAMILO CASTELO BRANCO


Curso de Graduação


Licenciatura em História

Márcio dos Reis
Marcimar Barbosa de Siqueira



“Formação do Bairro Cidade Tiradentes”




São Paulo
2014

UNIVERSIDADE CAMILO CASTELO BRANCO


Curso de Graduação
Licenciatura em História


Márcio dos Reis
Marcimar Barbosa de Siqueira


“Formação do Bairro Cidade Tiradentes”



São Paulo 2014



Monografia apresentada ao curso História da Universidade Camilo Castelo Branco, como requisito parcial para conclusão de graduação no curso de História
Orientador (a): Profª. Ms. Talita dos Santos Molina
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I _______________________________________________8
O empresário-fazendeiro: Antonio Proost Rodovalho
CAPÍTULO II______________________________________________17
A Estação Lajeado
CAPÍTULO III_____________________________________________20
A Fazenda Santa Etelvina
CONSIDERAÇÕES FINAIS_________________________________24
FONTES__________________________________________________26
BIBLIOGRAFIA___________________________________________27
ANEXOS__________________________________________________28






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INTRODUÇÃO



Quando foi proposto a elaboração de um TCC para conclusão de nossa graduação no curso de História, logo pensamos que estudar um local que somos moradores há aproximadamente 20 anos seria desafiador. Convivendo diariamente com vários amigos e moradores que moram neste bairro há mais de três décadas, escolhemos, então, fazer um breve estudo da conhecida COBAH Cidade Tiradentes – localizada na região Leste do município de São Paulo. Nossa proposta está em investigar o processo histórico que ocorreu neste bairro antes de tornar-se um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina – que iniciou as obras das moradias populares na década de 80.
Do mesmo modo, em uma breve pesquisa nas bases de dados de bibliotecas universitárias, como USP, UNESP e UNICAMP, percebi que é quase ausentes dissertações ou teses sobre a história deste bairro, os trabalhos encontrados são, em sua maioria, do curso de Arquitetura ou Geografia.
Assim, de posse das informações citadas acima e conversando com nossa orientadora, escolhemos esse desafio – o que para nós foi muito estimulante – de estudar a história deste local com o objetivo de compreender melhor como este se transformou em um bairro dormitório a partir da década de 1980 e, atualmente, é um dos maiores bairros com conjuntos populacionais da zona leste.
De acordo com as informações disponíveis no site da subprefeitura da Cidade Tiradentes, os conjuntos habitacionais deste distrito começaram a ser construídos na década de 1980 e, atualmente, os bairros pertencentes a este órgão são: Cidade Castro Alves, Barro Branco, Vila Yolanda, Vila Paulista, Jardim Souza Ramos, Jardim Pedra Branca, Setor G, Prestes Maia, Juscelino, Sitio Conceição, Jardim Vilma Flor, Inácio Monteiro e Conjunto Juscelino Kubitschek. A subprefeitura também nos informa que nesta região, temos uma somatória de aproximadamente 220.000 mil habitantes morando neste distrito na atualidade, indicando o quanto esta região cresceu desde a


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compra da fazenda Santa Etelvina pelo poder público na década de 1970 para transformar-se em conjuntos habitacionais até os dias atuais1.
Como afirmado acima, a Cidade Tiradentes, antes de se transformar em Cohab era uma fazenda, conhecida como Fazenda Santa Etelvina. De acordo com o documento cartorial2, a fazenda foi vendida para o poder público e, posteriormente, foi dividida em lotes para fazer os apartamentos populares.
Atualmente, por meio da tecnologia tivemos acesso aos acervos de diversos jornais que se encontram digitalizados que, para fazer essa pesquisa, foi de extrema relevância. Desse modo, utilizarei como fontes jornais e os sites oficiais da Prefeitura Municipal de São Paulo – PMSP relacionados ao tema.
Os jornais selecionados foram O Estado de São Paulo – O.E.S.P, Correio Paulistano e O Comércio de São Paulo – O.C.S.P
Nossa principal referência bibliográfica será a Dissertação de Mestrado de Rita de Cássia Carvalho Vicentini, intitulado O percurso de um percussor. Defendida no ano 2007, está dissertação nos propõe uma serie de dados sobre o Coronel Antonio Proost Rodovalho.
Também analisamos diversas outras obras para fazer este trabalho. A obra de Edgard Carone, intitulada A evolução industrial de São Paulo (1889-1930), será de extrema relevância por mostrar o contexto politico do período, com ênfase na figura do coronel Antonio Proost Rodovalho, seu cargo e suas participações em órgãos públicos e privados.
Também analisamos a obra de José Maria Bello, intitulada História da República, que pode nos trazer, para essa pesquisa, a importância sobre a politica republicana brasileira naquele contexto social.
A obra de Raquel Rolnik, O que é a Cidade, referência nos estudos de história do bairro e das cidades, nos mostra a importância de estudar esse tema3. Para a autora
estudar a história do bairro é retratar, fatos, momentos históricos, marcantes da história de São Paulo e do Brasil, como as políticas elitistas e oligarquias que comandaram a historia política no século XIX e inicio do XX, e como estas elites determinam a ocupação do


1 Informações retiradas do site da Subprefeitura Cidade Tiradentes. Para saber mais ver: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/cidade_tiradentes/historico/index.php?p=94. Acesso em 15/10/2014.
2 Documento retirado do Cartório de Itaquera, 1978
3 ROLNIK, Raquel. O que é a Cidade. São Paulo: BRASILIENSE, 1994.


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espaço geográfico da cidade, no caso São Paulo, que viviam profundas transformações econômicas e sociais, seja pela implementações de ferrovias, pelo crescimento populacional, as imigrações e migrações que aqui se estabeleceram para trabalhar, os desafios que essas classes operárias passavam no seu cotidiano, marginalizadas nas periferias das cidades, estavam assim desprovida de serviços públicos essenciais, dentro de uma cidade em formação e delimitada espacialmente como São Paulo (ROLNIK, 1994, pg. 35).
Podemos relacionar este trecho da obra de Rolnik com a história do bairro Cidade Tiradentes, pois o que será relatado ao longo deste trabalho relaciona-se com as transformações que uma cidade assiste quando do processo de urbanização no local.
Cidade Tiradentes, um bairro dormitório, feito sem as mínimas condições básicas, porque, na época da construção das moradias populares não foram feitos, em conjunto, áreas de lazer, hospitais, serviços básicos a população, como, farmácias, padarias entre outros. Isso demonstra a preocupação que os políticos da época tinham com as classes operarias. Desse modo, a obra de Rolnik faz total sentido para nosso trabalho, pois deixa claro o pensamento que imperava na construção do espaço geográfico, na cidade de São Paulo durante o século XX.
Já foi colocado que a maioria dos estudos sobre este bairro, relatam a história a partir da década de 1980, época em que se transforma em “bairro dormitório”. Assim, há raras citações tanto da Fazenda Santa Etelvina como do cotidiano deste local. Dessa forma, nossa proposta é estudar como era essa fazenda, quem era o dono, o que produziam como viviam, entre outros fatores que discorra sobre o cotidiano e hábitos deste local.
Para tal, explicaremos este tema em três capítulos. O capítulo I, intitulado O empresário-fazendeiro: Antônio Proost Rodovalho, descreverá sobre a vida do Coronel Antônio Prost Rodovalho – dono da Fazenda Santa Etelvina. No capítulo II, intitulado A Estação Lajeado vamos discorrer sobre a Estação de Trem de Lajeado juntamente com seu ramal que acaba por ligar esta estação com a fazenda Santa Etelvina. No capítulo III, intitulado, A Fazenda Santa Etelvina trataremos sobre o cotidiano da fazenda.
O que foi acompanhado durante os três capítulos desse trabalho acadêmico está relacionado à fazenda no período de 1895 a 1920, a fazenda continuou existindo depois



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de 1920, após a morte do coronel Rodovalho, é o momento em que a fazenda começa a ser vendida em vários lotes, sendo que um destes lotes formará mais tarde o bairro da Cidade Tiradentes.








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CAPÍTULO I: O Coronel Rodovalho




Como citado acima, Edgard Carone, em sua obra A evolução industrial, quando discorre sobre o crescimento industrial em São Paulo, que indica a ligação da Fazenda Santa Etelvina com o coronel Rodovalho.
O autor afirma que no período do Império boa parte dos cargos públicos era de “confiança”, no qual o escolhido para exercer a função poderia trabalhar para o Estado e, ao mesmo tempo, participar da direção de várias empresas paulistas. No caso do coronel Rodovalho, este, em 1875,
é nomeado gerente-tesoureiro da filial do Banco do Brasil, cargo que exerce durante 12 anos. Passa, logo em seguida, para a presidência do Banco Comercial, do qual é um dos fundadores. Dirige a Companhia Estrada de Ferro Ituana e a São Paulo-Rio de Janeiro (futura Central do Brasil). É responsável pela instalação da Associação Agrícola de São Paulo. Em 1855, toma parte ativa na realização da I Exposição Industrial Paulista. Coopera na fundação da Companhia de Gás de São Paulo, da Companhia Cantareira, da Fazenda Caieiras, da Fábrica de Tecidos Anhaia e Cia., da Serraria Sydow, das fábricas de cimento e louça, localizadas no km 83 da Sorocabana (Estação Rodovalho), e da Serraria e Fábrica de Cerâmica, localizadas na Fazenda Santa Etelvina (grifo nosso), no Lajeado 4.
Antônio Proost Rodovalho nasceu em 27 de Janeiro de 1838, em São Paulo - capital. Era filho do Capitão Antônio Joaquim Tavares Rodovalho – que também foi um comerciante na cidade de São Paulo, e sua mãe Henriqueta Proost Rodovalho, que era de uma tradicional família santista.
Desde criança Antônio Proost Rodovalho trabalhou com o comércio, mais só em 1862 teve seu próprio comércio vendendo açúcar, café e sal. Com o crescimento da vende destes produtos, Rodovalho inaugura, com seus irmãos, a Joaquim Prost Rodovalho & Cia, que operava com comissões, consignados, importação e exportação.


4 CARONE, Edgard. A evolução industrial de São Paulo (1889-1930). São Paulo: SENAC, 2001, pg. 150.


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Seus negócios eram realizados em duas filiais – Santos e Camp
inas, e sua sede era em São Paulo – capital.
Devido à grande quantidade de negócios que fazia, tornou-se grande empresário e político da cidade de São Paulo. Com uma vida empresarial de sucesso, casou-se com Etelvina Dutra Rodrigues Rodovalho e teve cinco filhos: Henriqueta Rodovalho, Antônio Proost Rodovalho Júnior, Maria Rodovalho, Joana Rodovalho e Antônio Joaquim Tavares Rodovalho Neto. Somente Rodovalho Junior seguiu os passos do pai referente ao lado empresarial – e não pelo lado político.
Casado e com filhos, Rodovalho já era considerado um grande empresário nesta capital, chegando a comprar os direitos de fornecer energia para a iluminação nas ruas de São Paulo. Com a intenção de expandir seus negócios, viaja para a Inglaterra à procura de investimentos e empréstimos, conseguindo, para a capital paulista, a San Paulo Gas Company Limited, no qual ele próprio investiu grande parte de suas ações, garantindo, assim, o monopólio de iluminação pública na capital, pois tornou-se o maior acionista da empresa.
Em 1870 o empresário chega ao seu auge, com participações nas companhias de estradas de ferro juntamente com grandes empresários da época, como Antônio de Queiros Talles, Antônio Paes de Barros e José Elias Pacheco Jordão. Visando mais investimentos, em 1872, Rodovalho inicia obras de construção da Companhia Ituana de Estrada de Ferro, com apoio de muitos empresários que eram membros da família Prado. Dessa forma, fundam a Cia. São Paulo e Rio de Janeiro, ligando a capital paulista a ferrovia D. Pedro II, com 231 quilômetros de extensão.
Ainda em seu período auge como grande empresário paulista, começa a explorar recursos naturais em diversas fazendas adquiridas por ele, sendo a mais conhecida a de Caieiras, que explorava principalmente cal para construções de edifícios na Capital. Mas o maior investimento que Rodovalho fez e onde colocou seu nome juntamente com a história de grandes empresários paulistanos, como o major Benedito Antônio Silva5 e Daniel Makinson Fox, foi à criação da Companhia Cantareira, para suprir o abastecimento de água na capital, com a utilização de matérias de construção da fazenda em Caieiras.


5 Benedito Antônio Silva e Daniel Makinson, foram grandes empresários e sócios de Rodovalho.



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A historiadora Rita de Cássia Carvalho Vicentina, em sua dissertação de mestrado intitulada O percurso de um Percursor – as atividades de um empreendedor paulista na São Paulo Imperial e Republicana, quando descreve sobre a vinda dos imigrantes para as indústrias paulistanas, a autora afirma que a principal mão de obra do empresário Rodovalho vinha dos imigrantes, ele não utilizava escravos como mão de obra. “Em suas fazendas eram empregados trabalhadores livres” 6.
Pioneiro nas construções de fábricas, Rodovalho foi, provavelmente, um dos primeiros a inaugurar uma indústria de fabricação de papel na capital paulista com mais de 200 operários e com a utilização de energia elétrica. No ano de 1890 funda a Companhia de Melhoramento de São Paulo e a empresa Serraria A Vapor, de Gustavo Sydow, no qual era sócio.
Antônio Proost Rodovalho também teve grande participação no Banco do Estado de São Paulo, com a criação de muitas agências na capital e no interior e, na década de 1870, com a ajuda de Joaquim José dos Santos Silva e do Barão de Itapetininga inauguram a primeira agência da Caixa Econômica de São Paulo, com a administração e direção de Antônio da Silva Prado e com Antônio Proost Rodovalho, como membro do conselho fiscal. Percebe-se, então, que Antônio Proost Rodovalho era acionista de muitos bancos na cidade de São Paulo junto com grandes empresários na época.
Este empresário também ajudava ao que muitos chamam de necessitados. Era integrante de diversas irmandades, como a Irmandade da Ordem Terceira de São Francisco Irmandade do Sacramento. Foi benemérito da Sociedade De Beneficência Portuguesa e tesoureiro da Santa casa de Misericórdia. Essas atividades filantrópicas concede a Rodovalho, no ano de 1879, a autorização para prestar serviços funerários para a Santa Casa, como, por exemplo, transportando e sepultando cadáveres, venda de caixões, sendo exclusividade de sua empresa por aproximadamente 20 anos. Com seu filho Antônio Prost Rodovalho Junior e Oscar horta - um sócio do coronel funda a Casa Rodovalho, que fabricava carroças, charretes, carruagens e bondes. A Casa Rodovalho prestava serviços para a Santa Casa e empresas de viação pública da cidade de São Paulo, com a fábrica situada no bairro da Mooca.



6 VICENTINA, Rita de Cássia C.. O percurso de um precursor - as atividades de um empreendedor paulista na São Paulo imperial e republicana. São Paulo: Universidade de São Paulo – USP. Dissertação de Mestrado defendia no Programa de Pós-Graduação em História na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH, 2007.



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No que se refere a sua atuação à política, Rodovalho, por ter muitos negócios, tinha grande influência política, tanto que consegue uma visita do Governador do Estado (ou Presidente da Província), somados a grandes empresários da época e a presença da imprensa paulistana em sua grande fazenda em Caieiras, que já estava se transformando em uma grande fazenda industrial com cerca de 1400 operários entre homens, mulheres e crianças.
Este empresário também obteve a patente de coronel, conforme indica, novamente, a autora Rita de Cassia C. Vicentina
Rodovalho era membro da Guarda Nacional. Não sabemos a forma pela qual participou do conflito com o Paraguai, mas, em 1870, foi promovido a coronel. Em 1878, era apresentado como coronel comandante superior do Estado Maior da Guarda Nacional na capital. Na prática, ele era responsável pela nomeação e promoção dos comandantes dos batalhões sediados nessa capital. (VICENTINA,2007,114 ano, pg.23).
Rodovalho também teve um papel de grande destaque como vereador da Câmara Municipal de São Paulo de 1869 até 1873, o que favoreceu muito no crescimento e na manutenção de suas indústrias. Chegou por duas vezes à presidência da Câmara Municipal de São Paulo pelo Partido Conservador, na última vez que chegou a presidente da Câmara Municipal de São Paulo no período de 1896 a 1898, foi nomeado para diversos cargos importantes na Câmara, entre eles, para a comissão de contas, comissão de obras públicas e Intendente de finanças. Suas ações políticas visavam atender as demandas na capital paulistana alinhadas aos seus interesses privados às necessidades na capital paulistana com obras de extrema importância para a cidade e para as suas empresas e comércio que foram beneficiadas com sua estadia na Câmara Municipal de São Paulo.
Vale lembrar que, se num primeiro momento o Brasil era governado por Dom Pedro II, se revezavam no poder dois partidos: o Liberal e o Conservador. Os ideais políticos desses dois partidos procurava por uma política de favorecimento as elites locais, desse modo, os cargos políticos eram distribuídos aos representantes do partido vencedor, fortalecendo uma política elitista, de favores e privilégios. Mais tarde, com o início da Republica em 1889, esperava-se uma mudança significativa neste cenário político, o que de fato não ocorreu, temos então as políticas das oligarquias, dos


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coronéis, nas quais usam suas influências locais para benefícios próprios, em troca, o governo central recebia apoio e sustentação política dessas oligarquias7.
Durante o ano de 1890, foi cedido ao Rodovalho por meio do Banco União de São Paulo a concessão para ser o emissor de terras devolutas na cidade de São Paulo, além da isenção de impostos para estabelecimentos industriais. Tudo foi cedido pelo governo, que também autorizou a colonização de áreas e a abertura de estradas e produção de materiais de construção, com isso Rodovalho adquire muitas terras e grandes fazendas no Estado aumentando ainda mais seu patrimônio. Também adquire muitos terrenos e chácaras no Bairro da Penha, chegando a totalizar mais de 44.985,75 metros quadrados. Com a intenção de aumentar o número de habitantes em torno deste bairro, Rodovalho chegou a fazer um ramal de trem que ligava a estação de Guaiauna até a Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França. Outro bairro que também teve grande influência de Rodovalho foi o bairro do Ipiranga 


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Dessa forma, percebe-se que o Coronel Rodovalho utiliza-se de suas influências políticas para alcançar benefícios próprios, seja para aquisição de terras como a fazenda Santa Etelvina, seja na construção de ramais ferroviários, para escoamento de sua produção.
Como vimos, o Coronel Antônio Proost Rodovalho, teve uma grande importância para o desenvolvimento da cidade de São Paulo, foi um grande empresário e bem sucedido empreendedor, deixou seu nome marcado na história de São Paulo e suas fazendas industriais é que chamam a atenção para nosso trabalho, pois uma destas fazendas é a de Santa Etelvina, como é relatado, por exemplo, no jornal O Estado de São Paulo, datado de 10 de dezembro de 1895. A reportagem afirma: “Faltam-nos
7 Republica das oligarquias foi um período compreendido de 1894 a 1930, no qual os grandes proprietários rurais da região sudeste do Brasil, dominaram o cenário político nacional. Dentro das características que prevaleceram neste período podemos citar o coronelismo, no qual os coronéis (grandes proprietários rurais) é que exerciam de fato o poder local nas regiões em que moravam, indicando aos políticos brasileiros que os colocaria no governo e em troca teria apoio destes em seus negócios. Este período também é conhecido como “República do Café com Leite”, no qual os presidentes da República eram eleitos de acordo com o que as oligarquias paulistas e mineiras decidiam. Desse modo, as oligarquias paulistas (barões do café) e mineiras (grandes produtores rurais) se alternavam no comando do poder. Outros fenômenos neste período são as fraudes eleitorais, o voto de cabresto ou curral. As oligarquias locais usavam de sua influência para alterar os resultados das eleições, compra de votos, conforme seus interesses. Todo esse cenário vai mobilizando diferentes setores da sociedade, a lutar por melhorias políticas e econômicas, neste período teremos uma série de revoltas, contestando o poder destas oligarquias, tais como a Revolta de Canudos, a Revolta do Contestado, a Revolta da Vacina, o Cangaço, a Coluna Prestes e o movimento Tenentista. Para saber mais ver: BELLO, José Maria, História da República, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1976, pg. 45.
8 Vicentina, pag. 21


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informações sobre o ramal Santa Etelvina, há pouco construído, com um percurso de 13 quilômetros e que vai da Estação do Lajeado a fazenda de mesmo nome de propriedade do coronel A. Proost Rodovalho”.
Rodovalho esteve à frente da fazenda Santa Etelvina até 1900, período que estava em seu auge tanto na política como nos negócios. Os jornais da época indicam isso, como, por exemplo, novamente, no jornal O Estado de São Paulo, de maio de 1895, em sua primeira página, é colocado um relato de estragos feitos por pessoas desconhecidas em uma via férrea em construção de propriedade do coronel Antônio Proost Rodovalho, e que o delegado da região Lajeado, abriria inquérito para investigar os responsáveis. Esta ocorrência foi perto da Estação do Lajeado (hoje estação de trem Guaianazes), os motivos aparentes não foram informados pelo jornal e os autores do estrago são desconhecidos.
Como coloca a reportagem: “(...) estragos produzidos nas estradas públicas próximas a estação de Lajeado por uma via férrea ali em construção, de propriedade do coronel Rodovalho”.
Como vimos no parágrafo acima, a ligação da Fazenda Santa Etelvina com o nome do coronel Rodovalho, e com essa reportagem fica esclarecido que o coronel Rodovalho e proprietário.
Quanto ao mistério de quem foi o autor desses estragos e a mando de quem, aumenta com uma publicação do mesmo jornal no domingo de 16 de Junho de 1895, que relata uma diligência com o delegado da 5ª delegacia de polícia, com seu escrivão e o capital Cabral e uma força de policiais para efetuar na Estação do Lajeado, uma importante diligência e mais curioso e que o jornal não informa, o que a diligência iria fazer, para não atrapalhar a ação da justiça.
O jornal Correio Paulistano, na edição de 19 de dezembro de 1895, também indica a relação do coronel com a fazenda Santa Etelvina. Na sessão de Economia & Finanças, havia uma reportagem “Caminhos de ferro em São Paulo”, que relata as receitas e despesas das linhas férreas do Estado de São Paulo. Essa reportagem cita o movimento de empresas que usam as linhas férreas com o nome de seus donos e a quantidade de mercadorias transportadas com tabelas informativas deste mesmo ano. No que se refere à Santa Etelvina, a notícia afirma que está sendo construída uma extensão de 13 quilômetros que liga a Estação do Lajeado a Fazenda Santa Etelvina e




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que é de propriedade particular do coronel Antônio Proost Rodovalho. Com essa reportagem a Fazenda Santa Etelvina inicia suas atividades comerciais com o uso de sua linha férrea, que foi de grande importância para o seu crescimento. Os trabalhadores que construíram a linha férrea e posteriormente foram trabalhar na fazenda, eram de maioria imigrantes italianos.
Outro registro que indica a ligação da fazenda ao coronel está em um anúncio de venda de produtos no jornal O Comercio de São Paulo, edição de 10 de maio de 1896.
Como citado acima, o anúncio, que estava dividido em duas partes, na primeira descreve produtos da Fazenda Santa Etelvina, que era apresentada como grande serraria aperfeiçoada no Lajeado junto com a Estação de Ferro Central Do Brasil e seus produtos para comércio, como madeiras nacionais serradas, lavradas e aparelhadas ou como em vigas e tudo que diz respeito à arte de marcenarias, caprichosamente preparado, ou lenhas brutas e rachadas e carvão vegetal, e uma cerâmica que vendia tijolos e telhas especiais, na segunda parte do anúncio estavam os produtos de outra fazenda de Rodovalho.
Como a fazenda utilizava um ramal particular, esses produtos eram de rápida entrega, através do ramal que ligava até a Estação do Lajeado e, posteriormente escoava para toda a linha da Estrada de Ferro Central do Brasil

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Analisando as edições deste O Commercio de São Paulo ao longo do ano de 1896, nota-se a presença deste anúncio por todas as publicações, o que indica que na fazenda havia uma diversidade de produtos para serem comercializados e, ao mesmo tempo, nos mostra como funcionava o cotidiano da fazenda Santa Etelvina, que será exposto posteriormente.
Como citado acima, com a chegada de trabalhadores para a fazenda, em sua maioria imigrantes italianos, inicia-se uma série de crimes e alguns assassinatos ocorrem com frequência na fazenda.




9 A Estrada de Ferro Central do Brasil, foi criado em 1855 com o nome Estrada de Ferro Dom Pedro II durante o governo imperial do próprio Dom Pedro II, tinha por finalidade integrar as regiões do país através de uma linha férrea, que se liga-se a outros ramais ferroviários .Sua sede (estação central) ficava no Rio de Janeiro, sede do governo Imperial, a ligação com a província de São Paulo só ocorreu em 1877, um trecho de aproximadamente 231km construídos pelas Companhias São Paulo e Rio de Janeiro. Para saber mais ver: MOURA, Carlos Eugenio Marcondes de; Vida Cotidiana em São Paulo XIX. São Paulo: UNESP, 1999 pg 407.


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O primeiro a ser registrado pelos jornais da época é um assassinato de um trabalhador da Estação do Lajeado que era guardador de chaves da estação, que foi esfaqueado por um maquinista de trem que prestava serviços no ramal Santa Etelvina e era funcionário de Rodovalho, o motivo do crime o jornal não informa, mais muitos crimes começam ocorrer por funcionários da fazenda. (relato do jornal O Estado de São Paulo, de 13 de agostos de 1896).
Fechando o ano de 1896, uma comissão examinadora do 1ª distrito, composta dos professores Antônio Morato de Carvalho, Francisco Justino de Azevedo e o Dr. Américo Pinheiro e Prado – que era presidente inspetor literário, faziam uma visita e alguns exames para alunos de uma escola do Lajeado.
Mais no final da reportagem, o repórter do jornal relata um convite para a comissão de professores e muitas pessoas da região a conhecer a fazenda de Rodovalho e o repórter se refere à fazenda como “importante estabelecimento industrial” e depois da visita em todas as dependências, a comissão retorna para o Lajeado. Esta comissão chegou em Lajeado por meio de um bonde de passageiros da via férrea particular do Coronel Antônio Prost Rodovalho.
O ano de 1897 foi um ano conturbado na Fazenda Santa Etelvina de propriedade de Rodovalho pois muitos crimes e sabotagens ocorreram na região. De acordo com as notícias publicadas no (O Estado de São Paulo, 1 de junho de 1897).
Existia um funcionário na fazenda, chamado de Gori Pompillio, que foi preso pelo subdelegado da Estação do Lajeado, por ter esfaqueado Augusto Vanucci, e foi medicado na fazenda mesmo, os motivos do crime não são divulgados, mais Gori Pompillio foi recolhido para a cadeia pública (O Estado de São Paulo, 1 de junho de 1897).
Dez dias após esse ocorrido, o mesmo jornal relata que um grupo de homens armados tentaram impedir a colocação de fios telefônicos na estação do Lajeado para a fazenda Santa Etelvina. Curiosamente, o líder desse bando era o administrador da pedreira, vizinha da fazenda. Esta notícia nos indica que, provavelmente, era uma batalha entre o coronel Rodovalho e latifundiários locais pelo poder das terras.



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Infelizmente, as documentações pesquisadas não nos indicaram o nome do dono da pedreira, que era vizinho da fazenda, no entanto, de acordo com reportagem, a polícia foi acionada e uma força de 20 praças do 1ª Batalhão, sob o comando de Alferes Lima, foi ao local tomar providências sobre o ocorrido.
As providências foram tomadas, provocando o aumento do conflito, como relata o mesmo jornal seis dias depois. Não satisfeitos, alguns homens danificam partes da linha férrea Santa Etelvina, são eles: João da Silva Loureiro, Miguel Laters e Pedro Ferreira Lopes. Todos foram presos, mais como o crime era afiançável foram todos postos em liberdade.
Antes da virada do século aparentemente, uma batalha foi ganha pelo coronel Rodovalho, e publicada nesse mesmo jornal (O Estado de São Paulo) mais no ano de 1899, um anúncio de venda da Pedreira, por preço vantajoso, não podemos afirmar nada que rodovalho teve participação ou influência direta nessa venda, mais devido aos fatos acontecidos alguns anos atrás e um longo período de calma na região, entendemos que umas das batalhas entre coronéis foi vencida.
Neste mesmo ano, com sua força e influência, é providenciada por meio da câmara municipal de vereadores da cidade de São Paulo a instalação de iluminação do Bairro do lajeado.
Com a crise que abateu o território brasileiro a partir da década de 1930, como a crise do café no final do século XIX, algumas empresas de Rodovalho entram em falência e ele passa a se dedicar mais a indústria e investimentos na compra de terrenos e forma a Companhia Industrial Rodovalho, com seu filho mais novo e outros empresários.
Desse modo, a partir desse momento, passa a dar mais atenção as suas fazendas e de grande empresário passa a ser grande fazendeiro.


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Capítulo II: A Estação Lajeado




Quando iniciamos nossa pesquisa por um documento cartorial que indica a venda de uma fazenda, conhecida como Santa Etelvina, e que foi loteada pela Cohab10 para ser transformado em conjunto habitacionais.
Uma parte desta fazenda se encontra hoje no bairro da Cidade Tiradentes, sendo que no terminal de ônibus do mesmo bairro ainda se encontra parte do que foi esta fazenda. Para entender a fazenda temos que entender quem foi Rodovalho – que já foi exposto no capítulo anterior, o que estava acontecendo em torno da recém criada Estação do Lajeado que deu origem na formação do bairro de Guaianazes e, por último, quem foram os funcionários da fazenda e como era o cotidiano deste local – será analisado no próximo capítulo.
Como já citado no capítulo anterior, há indícios de que na região da fazenda havia uma estação de trem, a Estação Lajeado, que era utilizada para transporte de mercadorias e pessoas. De acordo com a professora de História da rede pública estadual Vani Gomes da Silva Donegati: “Na fazenda Santa Etelvina - construída em 1909 e extinta em 1937, havia um trecho particular da linha da estrada de ferro ligando a Estação do Lajeado à sede da Fazenda”


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Antônio Proost Rodovalho foi um dos primeiros proprietários da fazenda, sendo o responsável pela construção do ramal Santa Etelvina que ligava a fazenda a Estação do Lajeado.
Os primeiros indícios da família de Rodovalho na região do Lajeado aparece, no jornal A Província de São Paulo12, de 1886, quando é relatado uma apreensão de um
10 Cohab significa Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo. Criada em 1965, tem a função de promover moradias própria as classes populares que não tem condições de comprar uma casa com a renda familiar que possuem.
11 Documento fornecido pela subprefeitura de Cidade Tiradentes, datado de 2008.
12 O jornal A província de São Paulo existiu durante o período 1875 á 1889 quando passa a ser chamado de jornal O Estado de São Paulo, e sua função era criticar o regime político do período, no caso, a Monarquia e a Escravidão. Entre seus principais fundadores destacam – se: Manoel Ferraz de Campos Salles (presidente do Brasil) e Américo Brasiliense (governador do Estado de São Paulo). Hemeroteca digital www.hemerotecadigital.bn.br. O jornal Estado de São Paulo foi inaugurado em 1890 com a implementação do regime Republicano, e o sistema federalista a província de São Paulo passa a ser chamado de Estado de São Paulo, por isso o jornal também muda a sua nomenclatura e têm publicações até hoje http://acervo.estadao.com.br/historia-do-grupo.


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carregamento de toucinho que estava deteriorando na estação de Lajeado, e que esta carga pertencia a Joaquim Proost Rodovalho & Comp. Por estar deteriorando, a carga foi apreendida e incinerada.
Os documentos também indicam que existiam olarias na região do Lajeado, e isto está relatado no jornal A província de São Paulo, de 19 de Agosto de 1880, que pede ao inspetor geral de e chefe de tráfego, que mande mais vagões para conduzir tijolos para Mogi das Cruzes e recorreu a imprensa para chegar ao seu conhecimento.
Com o crescimento da região, devido à estação de trem, em torno da Estação do Lajeado, o jornal O Estado de São Paulo de 1894, noticia uma reclamação de moradores do Lajeado que foram em comissão ao palácio do Presidente do Estado13, para reclamarem medidas enérgicas que assegurem a posse de suas terras, porque em torno do Lajeado apareceram engenheiros medindo as terras deles, afirmando que as terras estavam devolutas14, O Sr. Bernadinho de Campos prometeu atender os moradores.
A Estação do Lajeado, em meados da década de 20 teve seu nome alterado para Estação Carvalho Araújo (e por fim Guaianazes). Isso se deu, devido há um anúncio no jornal O Estado de São Paulo, do dia 15 de Agosto de 1925, anuncia a venda de bangalôs15 em um futuro subúrbio na capital com o nome de Vila Princesa Izabel, perto da estação Carvalho de Araújo (antiga estação Lajeado), no qual indica a ligação de uma linha de bonde nesta estação com a fazenda Santa Etelvina, o qual, provavelmente, funcionaria como transporte de pessoas e cargas para o local, já que a estação era próxima a fazenda.
Isso aponta, também, que a fazenda foi dividida em lotes para sua venda, e o detalhe mais importante é que o anúncio retrata que o lugar foi escolhido por forças legalista, como campo de aviação nos tristes dias da revolta de julho de 192416.
No entanto, é importante salientar que neste anúncio é indicado que “brevemente” será inaugurada uma linha de bonde até a nova vila, na fazenda Santa



13 Presidente do Estado, neste período, era Carlos de Campos.
14 Terras devolutas significa, terrenos públicos, ou seja, propriedade pública, que nunca pertenceram a um particular, mesmo sendo ocupada.
15 Bangalôs eram tipos de residências, casas construídas na maioria das vezes, somente com um andar.
16 A Revolta de julho de 1924 foi o segundo movimento realizados pelos tenentes (o primeiro foi a Revolta dos dezoito do forte de Copacabana), contra o domínio das oligarquias, os tenentes propunham uma nova forma de governo, baseado numa ditadura positivista, aonde o lema era Ordem, Progresso e Liberdade. Nesse episodio considerado o maior conflito bélico da cidade de São Paulo, participaram alguns ilustres tenentes, tais como Isidoro Dias Lopes, Miguel Costa e Juarez Távora, que participaram mais tarde da Revolução de 1930, na qual conseguem derrubar do poder as oligarquias paulistas. Informação retirada do livro José Maria Bello, intitulada História da República, pg. 117


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Etelvina, então, não podemos afirmar que o anúncio estava errado e nem o jornal, porque se tratava de um anúncio publicitário, e para vender seus lotes a publicidade gosta de aumentar a imagem do lugar, essa empresa levava o nome de Mendonça & Almeida.
Porém, ao que tudo indica é que o ramal Santa Etelvina, que estava em mal estado de funcionamento, possa ter sido restaurada na década de 20, e anunciada como recém inaugurada.
Em 1930, o jornal Diário Nacional17 publica uma reportagem com a seguinte manchete: “Curandeiro que tem o apoio de uma autoridade policial”. Aparentemente, parece não fazer sentido com o estudo que estamos fazendo neste trabalho, no entanto, felizmente, esta manchete nos trouxe muitas informações sobre a fazenda Santa Etelvina e sua região.
Digo isso porque, nesta notícia, de autoria do delegado Saturnino Pereira, este proíbe a circulação dos bondes até a fazenda Santa Etelvina de propriedade do Dr. Nelson Rezende, autorizando somente a circulação de ônibus até a fazenda. Para tal, o delegado afirma que colocará guardas para vigiar o bonde na estação e indicou aos passageiros que utilizassem o ônibus. Curiosamente, o ônibus que fazia o trajeto era do irmão do delegado, e esse homem é acusado de danificar partes da ramal Santa Etelvina, para ganhar com seu transporte de ônibus. Os guardas que vigiavam o bonde também faziam propaganda do curandeiro afirmando que a primeira consulta era gratuita. Este fato indica que, mesmo a reportagem sendo sobre a questão do curandeiro, o importante, para nós, está no fato de indicarem o conflito de transportes de passageiros até a fazenda Santa Etelvina como ganho de dinheiro para a família deste delegado.
Importante indicar que o nome do delegado, Saturnino Pereira, na atualidade, é um nome de uma importante avenida, ligando a estação de trem Guaianazes ao bairro da Cidade Tiradentes, nos dias de hoje, evidenciando as personalidades a região que estamos estudando neste trabalho.



17 O jornal Diário Nacional existiu de 1927 a 1929. Principal publicação do Partido Democrático de São Paulo, que fazia oposição a Partido Republicano Paulista PRP, o jornal tinha a função de promover os ideias democráticos contra as políticas oligarquias do café com leite que comandavam país. Sua circulação ficou restrita ao estado de São Paulo.


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CAPÍTULO III: A Fazenda Santa Etelvina





Em 1905 foi emitido pelo jornal O Estado de São Paulo, a venda da Fazenda Santa Etelvina, com esse anúncio bem detalhado vamos conhecer como a fazenda funcionava e o que tinha nela.
A linha férrea, como já relatamos, ligava a Estação do Lajeado a casa de administração da fazenda e era composta de 1 locomotiva a vapor e 31 carros de carga puxados pela locomotiva, do lado da casa da Administração se encontrava uma casa plataforma que servia para carregar os carros que a locomotiva puxava e ela media 39 metros de frente e 7 de fundo, provavelmente o maior móvel da fazenda.
No total da fazenda existia 60 casas divididas em 21 aglomerações, no máximo de 5 casas por aglomeração, todas aglomerações eram divididas por toda a fazenda e numeradas todas as casas, algumas casas eram de pau a pique e outras de tijolos e reboco, na média todas com 2 quartos e algumas com 3 quartos, e nem todas com energia elétrica, nas aglomerações maiores com cinco casas eram compostas de grandes galinheiros e chiqueiros, e cada aglomeração tinha uma cozinha separada e galinheiros e pequenas hortas. Uma padaria e um armazém foram relacionados também, a fazenda principal era composta de 8 cômodos, no jornal é mencionado uma fazenda velha, mais sem muito detalhes.
A serraria e a olaria eram a vapor com dois fornos grandes e consta uma fábrica de mandioca e uma grande casa de administração de empregados com uma linha telefônica.
Importante ressaltar que no século XIX e início do século XX, ocorria um crescimento das olarias no país, pois estavam ocorrendo mudanças significativas em nossa sociedade, reflexo do que acontecia nas grandes potências europeias.
Uma dessas mudanças é o processo de modernização com base no modelo europeu, cujo países considerados num estágio de desenvolvimento, teria que ultrapassar as antigas cidades medievais e construir/planejar, uma cidade moderna,


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pronta para o “progresso”. Nesse sentido, a um surto de urbanização, principalmente no Brasil, pois ainda apresentávamos características de cidades do sistema colonial.
Nesse novo contexto social de cidades, prevalecia a construção de avenidas largas para mobilidade, mudanças no saneamento básico, uma nova arquitetura para as casas e prédios, e um fluxo em relação a população que migraram para as cidades em busca de nova oportunidades, melhores condições de vida, empregos. Assim, as cidades passam a ser o centro de tudo, ali se estabeleceram bancos, grandes fazendeiros, profissionais liberais, indústrias, e com elas milhares de trabalhadores.
Nesse sentido as olarias foram fundamentais, pois eram elas que produziam matérias-primas, ou seja, materiais de construções, necessários para esse processo de modernização e desenvolvimento, nessas olarias fabricavam tijolos, telhas, ferragens e etc.., sendo fundamental para esse momento da cidade de São Paulo e do Brasil.
A fazenda era composta de mais de 25 alqueires e 15 alqueires de milho, e plantações diversas e já registrava 2 alqueires de mata esgotada ou terras improdutivas.
Um fato curioso que o jornal menciona é um caminho que levava para um lugar chamado Barro Branco, que continha um riacho, e algumas casas, o curioso é que nos dias de hoje dentro do complexo habitacional da Cidade Tiradentes existe um subdistrito com o nome de Barro Branco.
Outro detalhe que o jornal menciona são, os poucos animais que contem a fazenda e pelo fato do dono da fazenda ter uma relação emocional, no anúncio do jornal coloca os devidos nomes dos animais, sendo 1 cavalo de nome Zaino e 6 burros de nome: Pucci, Ruano, Barão, calado, zaino e Benfeita, também havia um carro sem breque,
O que vimos foi o que continha dentro da fazenda. O jornal também relata que alguns imóveis estavam em más condições de funcionamento, algumas casas estavam destruídas e sem telhados, a linha de telefone estava quebrada e faltava alguns fios em determinados lugares. A linha férrea também estava danificada em alguns trechos.
A serraria e a olaria estavam desativadas com muitos reparos a fazer, o jornal relata também que na fazenda se encontrava 1.180 telhas, 2.800 tijolos e 340 mandiocas o que nos indica que, provavelmente a fazenda estava abandonada, e para confirmar esse teoria, o mesmo jornal e no mesmo mês publica uma reportagem de


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desaparecimento de Carlos Frescara Dario que trabalhava na fazenda, e o anuncio pede que o mesmo de notícias que está vivo, para que a família na Europa fique mais tranquila, um ano antes o mesmo jornal relata uma briga entre Pepe Scorso e Salvador Sposito, Pepe desferi uma facada em Salvador por não concordar com uma divisão de uma melancia, e Salvador foi levado para o hospital e sobreviveu a facada, como podemos observar a participação marcante de imigrantes italianos na fazenda, já em 1910 o abandono era geral e chegou ao ponto de um trabalhador morrer sem assistência medica na fazenda.
Como podemos observar ao longo do texto há uma forte presença de italianos na fazenda, isso se deve por dois fatores marcantes ocorridos no século XIX, o primeiro e que constitui nesse século uma política na qual coloca o raça do branco europeu como o mais civilizado, em relação as demais raças, colocando-as como inferiores, atrasadas, fazendo com que, para que um país seja considerado desenvolvido, um dos fatores seria uma política de branqueamento da sua população, diante disto países como o Brasil, começam a estimular a vindo de imigrantes europeus, em detrimento de outras raças, como por exemplo os africanos, que já estavam presentes aqui no país desde o século XVI, sendo usado como mão de obra escrava, mais devido a essas teorias legitimadas pela ciência, não se preocupou em criar uma política de inserção do negro na sociedade brasileira. O segundo é que essa política de imigração subvencionada, fará com que o Brasil recebe uma grande quantidade de imigrantes europeus, principalmente italianos, pois esse país, foi um dos últimos países europeus, a se unificar como Estado Moderno ocorrido por volta de 1860, a unificação trouxe uma grande problema, para os italianos, pois o norte do país era industrializado e o sul era agrária e muito populoso, não se tinha como acomodar toda essa população do sul, o que nesse contexto, começou – se a se estimular uma campanha de imigração dessa população excedente, criou-se então a política ideológica do fardo do homem branco, que constituía levar a missão civilizadora aos povos considerados atrasados, inferiores, como no caso o Brasil e os países africanos, asiáticos.
Sendo assim estimulou-se no Brasil uma política de imigração subvencionada, na qual o governo brasileiro estimulava-se a vinda de imigrantes através de campanhas na Europa, oferecendo um sistema de parceira como o colonato. A província de São Paulo, devido a produção cafeeira foi a região que mais recebeu esses imigrantes,


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principalmente italianos, que ajudaram na formação e construção daquela que viria a ser a cidade mais populosa, rica e desenvolvida do país, a cidade de São Paulo.
Esse jornal ( O Estado de São Paulo)que relata a venda da fazenda, foi muito importante para o trabalho de pesquisa para descobrir o que tinha dentro da fazenda e como funcionava o dia a dia da fazenda.
A fazenda Santa Etelvina nas décadas seguinte foi vendida em partes, por se tratar de um grande terreno o seu valor total ficou muito caro, e seu ramal ferroviário foi desativado também, pelo fato de sua manutenção ser muito cara.
O que não foi vendido, foi doado, como informa o jornal Correio Paulistano, de 25 de Setembro de 1935. A firma Rezende & Cia representada pelas Sr. Alice Junqueira Netto de Resende, Olga Resende Barbosa e o Sr. Mario Ottni de Resende, cederam uma grande parte do terreno que era a fazenda Santa Etelvina, para ser feito uma Colônia Agrícola para menores abandonados.
Com esse desmembramento da fazenda, ela ainda seguia firme e forte, não como era antes, ainda existia trabalhadores na fazenda e novos moradores em seu entorno, como o mesmo jornal relata em 1938, que Antônio Franchini, Nicolau Jordão e Maria do Rosário colonos da Fazenda Santa Etelvina, ganharam um prêmio na loteria federal.
A Fazenda Santa Etelvina ficou ativa até a compra da Cohab em 1978 , e o que sobrou dela ainda existe, no terminal de ônibus Cidade Tiradentes, a fazenda do terminal não temos como saber se é a fazenda nova ou velha, mais ainda serve hoje como ponto de referência da antiga Fazenda Santa Etelvina.



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CONSIDERAÇÕES FINAIS



Realizar este trabalho de pesquisa foi desafiador. Primeiro, o tema que escolhemos, tem todo um sentimento emocional com a nossa história, pesquisar o lugar aonde nascemos e vivemos atualmente, foi uma oportunidade enriquecedora, pois não havia muitos trabalhados sobre o nosso bairro, diante disto, encontramos vários desafios durante a nossa pesquisa. Nosso objetivo era entender a formação do futuro bairro Cidade Tiradentes, a partir da fazenda Santa Etelvina, como surgiu, quem era seu dono, sua ligação com a estação ferroviária do Lajeado, o cotidiano da fazenda, o que produziam - quem era as pessoas que viviam, trabalhavam, enfim, voltar no tempo e escrever a história daquele local.
Nesse sentido, utilizamos várias fontes e bibliografias, para produzir um trabalho de pesquisa com credibilidade. Por ser um trabalho inovador, não encontramos muitas fontes disponíveis sobre a fazenda Santa Etelvina nesse recorte temporal, sendo assim, tivemos que acessar várias fontes, sobre aquele período histórico, para tentar montar esse verdadeiro quebra – cabeça.
Utilizamos, primeiramente, por meio da Hemeroteca Digital, ter acesso a acervos de jornais da época, notícias sobre a fazenda e seu cotidiano, inclusive seu dono, o coronel Antônio Prost Rodovalho. Após essa etapa, utilizamos alguns livros, como uma dissertação de mestrado e obras que discutissem o processo de urbanização e industrialização em São Paulo. Utilizamos também site oficial da prefeitura da cidade de São Paulo, além de outras fontes para retratar tanto a região onde se encontrava a Fazenda Santa Etelvina.
A partir de então, nossa pesquisa tomou um rumo na qual não imaginávamos quando escolhemos o tema e iniciamos a nossa pesquisa, pensávamos que retrataríamos somente sobre a fazenda e a região, mais aos avançarmos nas pesquisas, fomos descobrindo o quanto a história do nosso objeto de pesquisa, está diretamente ligada a história da cidade de São Paulo e do Brasil, pois identificamos, vários assuntos e situações que fizeram e fazem parte da nossa história, tanto no passado, como na nossa contemporaneidade.
Com relação à discussão do tema, como, por exemplo, a questão da posse de terra, vimos que a política é, sobretudo, as elites locais que as comandavam, desfrutando de privilégios que nos trazem sérios problemas de concentração de terras, até os dias atuais. Além disso, vimos como naquele período era importante ter uma ligação de via


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férrea para escoar as produções, neste sentido, a ideia de ligar a fazenda Santa Etelvina, a Estação de Lajeado através da construção do ramal ferroviário, foi vital para a fazenda, como para entorno da região, pois consolidou como uma importante via de circulação de produtos e transporte para os moradores daquela região.
Ao contar a história das pessoas, que ali trabalhavam podemos constatar a presença de imigrantes, principalmente italianos, tanto na fazenda como na região, fruto de uma política de branqueamento da população daquele período, que dava preferências aos nascidos na Europa, em detrimento a outros imigrantes de outras regiões, e aos próprios antigos escravos.
Quanto ao que se produziam, podemos observar, através das fontes, a instalação de olarias na fazenda Santa Etelvina, ou seja, tijolos, telhas, materiais de construção, o que de fato, naquele período, retrata bem as demandas das grandes cidades, pois era o período de grandes transformações urbanas. As novas cidades deveriam seguir um padrão urbanístico europeu de modernidade e desenvolvimento, desvinculando- se ao nosso antigo sistema colonial, exercendo um novo papel político, econômico, social e cultural.
Diante, disto queria aqui deixar o nosso agradecimento em especial aos nossos orientadores Talita dos Santos Molina, e ao Alberto Luiz Schneider, que nos ajudaram a realizar esse grande trabalho de pesquisa, nos orientando, estimulando, dando dicas, sugestões, enfim, um norte para que pudéssemos realizar nossas pesquisas. Também queria aqui agradecer à todos nossos professores da Universidade Camilo Castelo Branco, que foram fundamentais na nossa formação acadêmica, sendo que muito que conseguimos realizar aqui nesse trabalho, foi graças à dedicação, esforço, que seus docentes nos proporcionaram durante todo esse período acadêmico.



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FONTES
Correio Paulistano, quarta feira, 3 de novembro de 1910 página 5.
Correio Paulistano, Terça feira, 10 de novembro de 1895, Economia e Finanças.
Diário nacional, sexta-feira, 19 de setembro de 1939
O Estado de São Paulo, quarta ferira, 19 de Agosto de 1890. Pagina 2
O Estado de São Paulo, São Paulo, sexta feira, 28 de setembro de 1894, pagina 1
O Estado de São Paulo, São Paulo, segunda-feira, 20 de Maio de 1895, pagina 1
O Estado de São Paulo, São Paulo, quinta feira, 10 de junho de 1897
O Estado de São Paulo, São Paulo, Sábado, 22 de junho de 1899 página 5.
O Estado de São Paulo, São Paulo, terça-feira, 16 de fevereiro de 1904 página 2.
O Estado de São Paulo, São Paulo, domingo, 6 de Agosto de 1899, página 1.
O Estado de São Paulo, São Paulo, terça-feira, 1 de junho de 1897, página 1.
O Estado de São Paulo, São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 1897 página 1.
O Estado de São Paulo, São Paulo, domingo, 25 de abril de 1905, página 2.
O Estado de São Paulo, São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 1897, página 1.
A Província de São Paulo, São Paulo, 12 de março de 1886, página 2.
O Estado de São Paulo, São Paulo, segunda-feira, 20 de Maio de 1895, página 1.
O Comercio de São Paulo, São Paulo, domingo, 10 de Maio de 1896, página 2.
Correio Paulistano, São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1935, página 3.
- Todas essas edições estão disponíveis no site: www.Hemerotecadigital.bn.br
- Subprefeitura de Guaianases: www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/guaianases/historico/index.php?p=51
- Cartório de Itaquera, 1978
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BIBLIOGRAFIA
CARONE, Edgard. A evolução industrial de São Paulo (1889-1930) – São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2001.
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: BRASILIENSE S.A., 1994.
BLAY, Eva Alterman. Eu não tenho aonde morar: vilas operárias na cidade de São Paulo. São Paulo: NOBEL 1985.
VICENTINA, Rita de Cássia C.. O percurso de um precursor - as atividades de um empreendedor paulista na São Paulo imperial e republicana. São Paulo: Universidade de São Paulo – USP. Dissertação de Mestrado defendia no Programa de Pós-Graduação em História na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH, 2007.



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ANEXOS



Fazenda hoje, foto tirada pelos autores dentro do terminal de ônibus Cidade Tiradentes, São Paulo, capital, em 27 de setembro de 2014.
29
- Foto atual do Terminal Cidade Tiradentes;
Fonte: http://colunas.radioglobo.globoradio.globo.com/platb/blogdoamarelinho/2013/07/18/paralisacao-de-motoristas-e-cobradores-deixa-200-mil-pessoas-sem-conducao-na-regiao-de-cidade-tiradentes-na-zona-leste-de-sao-paulo/terminal-cid-tiradentes-2/
30
- Foto atual do bairro Cidade Tiradentes.
Fonte: Silva, Marcio Rufino “ Mares de prédio” e “ Mares de gente”: território e urbanização critica em Cidade Tiradentes, São Paulo: Universidade de São Paulo – USP. Dissertação de Mestrado defendia no Programa de Pós-Graduação em Geografia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH, 2008.pg.250
31
Mapa do ramal de trem que ligava a fazenda Santa Etelvina a estação de trem do
Lajeado - hoje Guaianazes. Retirado do trabalho de Marcio Rufino Silva, intitulada
Mares de prédio e mares de gente: território e urbanização critica em Cidade
Tiradentes. São Paulo 2008, pg. 81..
Foto do bonde que ligava a fazenda Santa Etelvina a estação do Lageado.
FONTE: http://ptdzcidadetiradentes.blogspot.com.br/2013/05/pt-diretorio-zonalcidade-
tiradentes.html

segunda-feira, 13 de julho de 2015

O famoso ramal Santa Etelvina, que ligava a fazenda ate a estação do Lageado(hoje estação de Guaianases)todos os historiadores confirmam sua existência, mais a sua data é uma grande polemica.

    Um tema que me deu muito trabalho e duvidas no meu TCC, foi a data de inauguração do Ramal Santa Etelvina, durante minha pesquisa diversas datas surgiram sobre o ramal e uma grande duvida aparaceu, qual seria a data certa do inicio do ramal?
    Achei muitos sites e blogs falando do assunto,ate mesmo historiadores confirmando a data de 1908 como oficial do inicio das atividades do ramal, o próprio site oficial da prefeitura de São Paulo aponta essa mesma data.
     Vou deixar todos os site que comentam esse assunto abaixo:

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/guaianases/noticias/?p=32303

http://www.estacoesferroviarias.com.br/g/guaianazes.htm

http://www.estacoesferroviarias.com.br/ferroviaspart_sul/ramaldapedreira.htm


http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2013/02/guaianases-velho-de-guerra-elisabeth_6.html

    Mais com o aprofundamento da pesquisa, cheguei a uma data completamente diferente de todos que estudaram sobre a fazenda, a primeira data é de 1895, do jornal Correio Paulistano e a outra é do jornal O Comercio de São Paulo de 1897, esse ultimo mostra os produtos produzidos pela fazenda.
    Chegar a uma data certa e quase impossível, mais podemos analisar os documentos e tirar nossas próprias conclusões.
    Abaixo os jornais, e para tirar mais duvidas baixe meu TCC, que esta disponível no Blog.